segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Objetivos comportamentais para a educação

Por Marcos Marcelo F. Barreto

Em 1956, Benjamin Bloom publicou um trabalho no qual sistematizou critérios para a elaboração de objetivos comportamentais. Este trabalho tem sua origem no behaviorismo ou psicologia comportamental, e por finalidade auxiliar profissionais através de um guia prático para a redação de objetivos instrucionais, didático-pedagógicos ou organizacionais para o ensino e execução de tarefas relacionadas à aprendizagem de alunos, ou colaboradores.
Muitos educadores utilizam em seus planos de curso a formulação de objetivos comportamentais. Estes objetivos determinam os comportamentos observáveis que o aluno deverá ser capaz de executar ao final da atividade planejada. Muitas vezes, esta formulação segue critérios diversos, dependendo da formação profissional, experiência pedagógica ou crenças político-pedagógicas. Justo por isso, alguns professores tendem a definir objetivos em termos tão gerais que os resultados esperados da aprendizagem se tornam vagos e ambíguos.

Esta diversidade de entendimentos, ambigüidades ou imprecisão dos termos utilizados na redação destes objetivos, causa equívocos metodológicos quando um professor é solicitado a executar em uma aula ou atividade durante o curso a partir de um planejamento que não elaborou.

Com base nesta discussão, este texto propõe:

1. Análisar a formulação de objetivos comportamentais para a educação.
2. Assim apontar equívocos comuns relacionados à formulação de objetivos comportamentais
3. Propor um guia prático para a redação de objetivos.

Análise de conceitos

META é a declaração geral do que se pretende que o estudante tenha aprendido ou adquirido como habilidade ou competência ao concluir um curso. Está associada ao planejamento estratégico (de médio a longo prazo).

OBJETIVO é a determinação do que se pretende que o estudante seja capaz de EXECUTAR após ter concluído o ensino, que pode ser uma atividade, uma aula, uma unidade, módulo ou curso. Seu desempenho deve ser mensurável e a tarefa deve estar relacionada com problemas reais do cotidiano pessoal, educacional ou profissional.

Um objetivo, além de ser mensurável e relacionado com problemas reais do cotidiano, deve:
a. Ser redigido em linguagem clara.
b. Ser coerente, de modo que justifique a execução pelo estudante.
c. Listar uma descrição nítida das condições nas quais a tarefa deverá executada.
d. Detalhar níveis de desempenho determinados, quando necessário* (auxiliarão em processo de avaliação).

Embora possa parecer simples, professores, ao elaborarem objetivos comportamentais, tendem a focalizar o processo de ensino, o processo de aprendizagem ou os assuntos a serem desenvolvidos, em vez de focalizarem os resultados desejados com a instrução (GRONLUND,1975). Este fenômeno acaba por provocar equívocos que poderão comprometer a execução do planejamento.

Objetivo geral e objetivos específicos.

O objetivo geral é uma ação que está diretamente associada ao produto final previsto no planejamento. Normalmente, depende de outras ações articuladas que possibilitem sua execução.

Estas ações constituem-se em etapas, que quando executadas, possibilitarão a conclusão do objetivo geral.

Os objetivos específicos são ações que delimitam e discriminam etapas necessárias à execução do objetivo específico. De modo geral, quando se transforma um objetivo geral em uma pergunta, as respostas obtidas podem ser transformadas em objetivos específicos.

Exemplo:
Redação do objetivo geral:
Ler palavras simples.
Transformado em pergunta:
O que alguém precisa saber para ler palavras simples? Ou, o que preciso ensinar a alguém para que possa ler palavras simples?
Respostas possíveis:
a. Identificar letras do alfabeto;
b. Associar letras e sons;
c. Reconhecer palavras escritas;
d. Oralizar/falar palavras escritas reconhecidas;

As respostas listadas discriminam etapas necessárias á execução do objetivo. Este modo de relacionar objetivo geral e objetivos específicos mantém uma coerência do texto do planejamento, além de permitir a verificação e avaliação dos objetivos a cada etapa.

Em outras palavras, o objetivo geral mostra qual o propósito final do seu trabalho. Os Específicos enumeram os passos e estratégias que serão utilizados para alcançar o objetivo geral.

A formulação de objetivos pode auxiliar em:
a. Avaliações diagnósticas.
b. Elaboração de seqüência do roteiro do curso, disciplina, ou unidade.
c. Avaliações de desempenho, testes, verificações e situações observáveis.
d. Informação pedagógica para os estudantes, corpo docente e administração.
e. Exemplos práticos a serem utilizados no ensino.

* Em alguns casos, seus padrões de desempenho provavelmente serão "o mais alto quanto você possa conseguir". Você pode, ainda, não saber o que é razoável esperar (você ainda não ministrou o curso), portanto, deixe para mais tarde estabelecer um padrão numérico até que você adquira experiência com os objetivos e o ensino.

Os equívocos mais comuns, segundo Grounlund (1975).

A seguir alguns exemplos de equívocos metodológicos na formulação de objetivos comportamentais.
1. Descrição do comportamento do professor e em vez do comportamento que o aluno deve ser capaz de executar.
a. Demonstrar ao aluno como montar um painel temático
Este objetivo descreve o comportamento do professor e não o que o aluno deve ser capaz de realizar.
b. Construir um painel temático. (Objetivo geral). Este objetivo O item “b” demonstra o que o aluno deve ser capaz de realizar ao término da atividade, mas carece de detalhamento, por isso está categorizado como objetivo geral.
c. Listar e recursos necessários à montagem de um painel temático (objetivo específico).
d. Descrever etapas de montagem de um painel temático (objetivo específico).
Os itens “c” e “d”, demonstram passos que auxiliarão o aluno a executar o objetivo geral da atividade.

2. Formulação do objetivo em termos de processo de aprendizagem, em vez de um termo de produto da aprendizagem.
a. Adquirir conhecimentos de um painel temático. Este objetivo enfatiza o processo de aprendizagem.
b. Descrever um painel temático. Este objetivo indica o que o aluno devera ser capaz de fazer ao final da atividade.

3. Incluir mais de um tipo de aprendizagem em cada objetivo geral.
a. Descrever um painel temático em detalhes
b. Descrever um painel temático e explicar cada detalhe.

A proposição “b” aponta duas ações: descrever e explicar. Pode acontecer de uma criança saber descrever o painel, mas não conseguir explicar em detalhes. A observação e avaliação destes objetivos deveria ser separada em atividades distintas. Assim facilitaria tanto a execução pelo aluno, quanto a avaliação do aluno.

4. Listar os assuntos e serem tratados
a. Painel temático.
b. Listar as etapas de construção de um painel temático.
A proposição “a” aponta o tema a ser tratado sem especificar o comportamento esperado por parte do aluno, pois não há indicação do que se espera que o aluno realize, enquanto que a “b” define uma ação específica e observável.

Sugestão para construção de objetivos

1. Comece cada objetivo com um verbo e omita refinamentos desnecessários.
2. Formule cada objetivo em termos de desempenho do aluno e não de desempenho do professor.
3. Formule cada objetivo como produto da aprendizagem e não em termos como processo de aprendizagem.
4. Formule cada objetivo de modo a indicar um comportamento terminal e não como e não como o assunto a ser tratado, durante o atividade, aula ou curso.
5. Formule cada objetivo de modo que ele inclua apenas um resultado geral da aprendizagem e não uma combinação de vários resultados.

Estas sugestões auxiliarão educadores e educandos a se organizarem para a realização de comportamentos de aprendizagem observáveis, facilitando tanto a compreensão do que se solicita quanto à avaliação do que foi realizado como resposta.

Conclusões

A elaboração de objetivos comportamentais para fins didático-pedagógicos, organizacionais ou empresariais, gera uma série de desafios à profissionais de diversas áreas. Entre os desafios, tornar verificável o que se propõe que o aluno venha a realizar, pois, toda atividade humana necessita educacional necessita de avaliação. A avaliação está intrinsecamente relacionada aos objetivos planejados e dentro de qualquer planejamento, o produto final é sempre um dos objetivos listados.

Referências

GROUNLUND, Norman E. – Verbos ilustrativos. In: Formulação de objetivos comportamentais para as aulas. Rio de Janeiro, Ed. Rio. , 1975.

KRATHWOLD, D. R. et alii - Taxonomy of educational objectives. Handbook 11: Affective domain. New York, David Mackay, Inc., 1964.

MAGER, R. F. - Preparing instructional objectives. Palo Alto, California, Fearon Publishers Inc., 1962.

________ & BEACH KENNETH, M. Jr. - Developing vocational instruction. Palo Alto, California, Fearon Publishers Inc., 1967.

________ - Some recent developments in the technology of objectives (A tape-casset interview with Dr. Mager). Sound Education Reports, Los Altos, California, Vol. 1, n° 3, 1969.