quinta-feira, 27 de maio de 2010

AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM.

Marcos Marcelo F. Barreto

O afeto, para o entendimento deste texto, deve ser considerado como o modo que afetamos o outro ou como outros nos afetam, sendo estes outros pessoas, objetos ou fatos.

Existem pessoas que simplesmente que reagem a odores ou fragrâncias, sons ou ruídos, ou fatos inusitados do cotidiano. Medicamentos e drogas “afetam” a percepção e o padrão de reações físicas e psicológicas. Odores como gasolina, água sanitária, gritos, gargalhadas, sussurros, críticas ou elogios, entre outros estímulos, podem gerar modificações drásticas no comportamento de pessoas, independente de classe social ou econômica, grupo cultural ou étnico.

Estas hipóteses, afetos possíveis, se reproduz em todos os ambientes nos quais existam pessoas. Naturalmente, a sala de aula é um local privilegiado para a ocorrência e recorrência destas descrições e possibilidades de interação entre pessoas, sejam educadores, aprendentes, familiares ou membros da comunidade.

A SALA DE AULA

A sala de aula é um local no qual sempre se deseja construir afetos, dentre muitos destaca-se a aprendizagem. À medida que a mediação de educadores altera o padrão de percepção e reação dos educandos, pode-se afirmar que há a construção de afetos. Segundo Paulo Freire (1996), todo mundo que ensina, aprende enquanto ensina. E todo mundo que aprende, ensina enquanto aprende. Neste pensamento há um claro reconhecimento de afeto, mútuo e interativo.

A Educação formal constitui-se num modo direto e sistematizado de construção de afetos. Deseja-se um cidadão que responda de modo socialmente aceitável para a sociedade, assim como este mesmo cidadão possa perceber de a sociedade de certo modo que lhe seja aceitável. Quando pensamos na formação de cidadãos, pensamos também na manutenção de cidades. Ou seja, desejamos, em última instância, um padrão de estímulos e respostas que permita aos interlocutores manterem-se em um padrão de convivência aceitável.

Todo padrão de reação torna-se uma aprendizagem, seja cognitiva, psicomotora ou afetiva, e a sala de aula propicia todas as suas formas. Na realidade, a sala de aula busca esta ocorrência.

FORMAS DE AFETO

Dentre as formas de afeto perceptíveis entre pessoas, podemos citar: o sentimento, a emoção e a paixão.

O sentimento é um modo de afeto baseado na razão. O padrão de comportamento é calmo sem grandes osciliações. Em geral está relacionado à manutenção de uma relação. Exemplo, a pessoa justifica o seu comportamento por construtivo, racional e socialmente desejável por alegar “gostar” da pessoa ou situação relacionada, a qual deseja sua manutenção.

A emoção possui características diferentes:

1. A emoção sempre afasta a pessoa da razão na proporção direta de sua influência. Quanto mais emocionado, menos racional.

Exemplo: é comum pessoas sob forte emoção praticarem atos que normalmente não fariam, algumas não reconhecendo o próprio comportamento. Em casos extremos a situações que chegam a ações instintivas e brutais.

2. A emoção sempre pode ser reconhecida através de manifestação física. O tônus muscular se altera e percebe-se hipertonia ou hipotonia dependendo da constituição física da pessoa afetada ou da natureza da emoção.

Exemplo: é comum alteração de humor, mudança de expressão facial e, em casos extremos, desmaios ou rigidez corporal que gera uma espécie de paralisia anulando reflexos.

3. A emoção sempre é contagiante e dissemina-se no ambiente no qual ocorra. Percebe-se, em situações de extrema emoção, manifestações de pessoas que nada teriam haver com o fato ou ocorrência observados.

A paixão é o que particularmente interessa ao educador. A paixão é o fator dinomogênico da inteligência, e pode ser traduzida como a razão a serviço do desejo. A pessoa movida pela paixão, em nossa percepção, elabora estratégias racionais para alcançar seus desejos, quando estes se tornam objetivos. A criança deseja muito um objeto, e que constrói uma estratégia inteligente para alcançá-lo quando o mesmo se encontra muito acima de sua estatura e para tal ação, elabora uma extensão do seu braço, esta sendo movida pela paixão.

Para melhor entendermos estes modos de afeto, consideremos: se a criança é movida pelo sentimento ela atende de forma serena a orientação do seu mediador (professor ou pai, por exemplo). Se diante da mesma situação ela for tomada pela emoção, provavelmente se manisfestará fisicamente na proporção da emoção. Crianças que fazem birra são exemplos de manifestação de emoção, a razão simplesmente perde espaço. Mas, se a criança desejar muito algum objeto ou situação particular, ela tentará convencer seu mediador de modo racional, caso não consiga ela tentará de modo racional construir estratégias que a conduzam a obtenção de seu objetivo. Isto é paixão.

A APROPRIAÇÃO PEDAGÓGICA E TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DE SABERES SOBRE AFETIVIDADE.

O educador, em posse destas considerações, poderá intervir de modo a equilibrar os afetos em ambientes educacionais, seja em sala de aula ou outro espaço formal como uma quadra de esportes da escola.

Percebe-se que a emoção deve ser mediada de modo a aproximar-se do sentimento ou paixão, pois, provavelmente, professores não desejam uma turma com vinte ou mais alunos compartilhando uma catarse coletiva, da qual ele tem pouco ou nenhum controle em dado momento. Entretanto, este mesmo educador, provavelmente, gostaria de observar seus aprendentes motivados por conteúdos, disciplinas, livros ou objetos de aprendizagem, pois, isto facilita o trabalho de ambos, educador e aluno, já que buscam voluntariamente algo em comum dentro do mesmo objeto. Esta busca pode ocorrer por motivos diferentes, mas sempre é desejada. Esta busca a que me refiro é a vontade de conquistar algo, e a aprendizagem torna-se estratégia para a conquista.

Se montarmos um quadro de relações poderíamos assim dispor:

Sentimento – vivência: manutenção de relação por argumentação racionais, mas sem motivação que provoque grandes variações na aprendizagem;

Emoção – experiência: tentativa e erro, com o afastamento da razão a aprendizagem fica profundamente comprometida;

Paixão – inteligência: elaboração de estratégias para enfrentar desafios e conquistar desejos e objetivos. A aprendizagem torna-se conseqüência de construção de autonomia da pessoa. Pode, inclusive, gerar comportamentos e respostas autodidatas.

Para concluirmos, vale salientar que baseado no pensamento walloniano, pode-se afirmar que a afetividade surge antes da inteligência e pode afetar profundamente o seu desenvolvimento.


SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS:

ALMEIDA. Ana Rita Silva. A emoção na sala de aula. Campinas. SP: Papirus, 1999 – (Coleção Papirus Educação).

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. São Paulo, SP: Paz e Terra, 1996. – (Coleção Leitura).

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. - (Educação e conhecimento).

terça-feira, 18 de maio de 2010

Aprendizagem, Psicomotricidade e leitura

Marcos Marcelo F.  Barreto.


Toda aprendizagem ocorre através do corpo. Os orgãos sensoriais, os membros e o corpo como um todo, são interfaces (portas de comunicação) de entrada e saída de informações processadas pelo Sistema Nervoso Central - SNC, de forma consciente ou não. As reações deste corpo são resultados de sua busca pelo equilíbrio entre processos endógenos e exógenos. Este evento, a homeostase, é um dos processos de aprendizagem no qual o corpo se adapta e responde ao ambiente. Estas respostas podem ser desde a adequação da temperatura interior ao ambiente exterior, como também podem constituir-se em repostas elaboradas dentro de sistemas de representações cognitivas, abstratas ou concretas, psíquicas através da fala, escrita expressão corporal ou ação do corpo sobre qualquer objeto, inclusive sua própria matéria.

Para Oliveira (2007),
Uma pessoa para manipular objetos da cultura em que vive precisa ter certas habilidades que são essenciais. Ela precisa saber se movimentar no espaço com desenvoltura, habilidade e equilíbrio, e ter domínio do gesto e do instrumento (coordenação fina). Esses movimentos, desde o mais simples ao mais complexo, são determinados pelas contrações musculares e controlados pelo sistema nervoso (BRANDÃO, 1984, p17). Dependem, portanto da maturação do sistema nervoso (p.41).
Quando, por qualquer motivo, ocorre um mau funcionamento de funções de qualquer parte do corpo, sejam primarias (originadas no SNC) ou secundárias (orgãos periféricos, sensoriais ou membros), haverá um provável comprometimento nos processos de aprendizagem.

Segundo Cabral (2001, p.16), “é no domínio da ação que o corpo se especifica como instrumento de adaptação à realidade. À medida que o corpo age, vai ocorrendo a maturação neurológica e a organização dos movimentos e gestos”. A ação supra referida é o próprio processo de aprendizagem, posto que, acredita-se, que todo ação gera uma nova experiência e consequentemente, uma nova aprendizagem, que por sua só se estancaria com a morte deste corpo físico. Ou seja, enquanto houver adaptações do corpo à realidade, haverá aprendizagem, o movimento seja fisicamente observável ou de ordem psicológica ou não, porquanto, ainda que o corpo encontre-se em repouso, o cérebro continua funcionando construindo conexões sinápticas que objetivam manutenção dos processos vitais, ou processando vivências emocionais e outras representações psicológicas e/ou cognitivas.

DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR.

Todas as atividades desenvolvidas pelo homem são resultantes de conjuntos de habilidades combinadas. Dentre as habilidades psicomotoras Oliveira (2007) destaca:
1. Coordenação global. Refere-se à atividade dos grandes músculos. Implica diretamente na postura e equilíbrio. Também permite a dissociação de movimentos e procura do individuo pelo eixo corporal. “Quanto maior o equilíbrio, mais econômica será a atividade do sujeito e mais coordenadas serão suas ações (p.41)”.
2. Coordenação fina e óculo-manual. Refere-se a destreza e habilidade manual e constitui-se em um aspecto particular da coordenação global. “uma coordenação elaborada dos dedos da mão facilita a aquisição de novos conhecimentos (p.42)”. Ações como desenhar e riscar tornam-se habilidades preparatórias para a aquisição da leitura e escrita. Destaca-se que apenas coordenação fina não dá conta de garantir a escrita, é importante e necessário que também possua um controle ocular, no qual, os gestos da mão sejam acompanhados pelos olhos, pelo olhar. Isto é chamado de coordenação visomotora.

ESQUEMA CORPORAL

“O corpo é uma forma de expressão da individualidade”
Gislene de Campos Oliveira (2007, p. 47).

A forma como o indivíduo percebe o próprio corpo é que se chama de imagem corporal. A expressão esquema corporal data de 1911 e surgiu com o Henry Head, e tinha um cunho neurológico. O conceito de corpo envolve um conhecimento intelectual e consciente do corpo e também da função de sues órgão (OLIVEIRA, 2007).
O córtex cerebral recebe informações das vísceras, das sensações e percepções táteis, térmicas, visuais, auditivas, e de imagens motrizes, o que facilitaria a obtenção de uma noção, um modelo e um esquema de corpo e de suas posturas. Head ainda afirma que o esquema corporal armazena não só as impressões presentes como também as passadas (p.48).

O desenvolvimento do esquema corporal é originado com a experienciação do corpo da criança que o constrói mentalmente, de forma gradual, dependo do uso que faz do deste corpo sintetizando sua experiência corporal. Não está relacionado diretamente com a tomada de consciência de elementos distintos que compõem seu corpo. O processo é subjetivo e complexo.

LATERALIDADE

Constitui-se na propensão do indivíduo utilizar, preferencialmente, mais um lado. É balizado por três níveis mão, olho e pé. Há pessoas que manifestam esta dominância do mesmo lado, são chamadas de destra homogênea (lado direito) ou canhota, ou sinistra homogênea (lado esquerdo). Quando ocorre a manifestação de movimentos nos dois lados e nos três níveis diz-se que o indivíduo é ambidestro. Contudo, há casos em que um dois três níveis encontra-se em oposição aos outros dois, neste caso configura-se o que chamam de lateralidade cruzada (OLIVEIRA, 2007).

DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA

A leitura e escrita constituem-se em processos de cognitivos que permitem ao ser humano perpetuar sua cultura, saberes e conhecimentos, comunicar e expressar pensamentos, sentimentos, emoções, idéias e tudo o mais que lhe for possível criar. Segundo Le Boulch (1987, p.59), o domínio da língua escrita é derivado de um conjunto de condições: o domínio da linguagem, sua pronúncia e sintaxe; a familiarização global com o código gráfico; e condições psicomotoras.

Existem aspectos funcionais do aprendizado da leitura (ibid, p. 31), então, tanto a codificação (escrita) quanto a descodificação (leitura) alfabética ou de outro sistema de grafema-fonema, solicitam a atuação de sistemas psicomotores.

“A escrita é, antes de mais nada, um aprendizado motor” (LE BOULCH, 1987, p.32). Para se adquirir esta práxia especifica, e complexa, necessita-se que haja um preparo que proporcione motricidade espontânea, coordenada e rítmica. Este preparo pode evitar o surgimento de disgrafia. A função de interiorização é exigência deste aprendizado. A prática constante conduz a uma progressiva espontaneidade.

A percepção e representação mental do espaço influenciam a leitura e escrita. A imagem do corpo orientado mantém relação com surgimento de problemas como disgrafia e dislexia. Do mesmo modo, a dislateralidade manifesta-se, entre outras formas, em processos de aquisição de leitura e escrita. Neste sentido, Launay (1952, apud LE BOULCH 1987, p.33) afirma que “nossas próprias observações nos permitem afirmar que em muitos casos de dislexia, constata-se uma dominância lateral cruzada da mão e visão”.

A psicomotricidade constitui-se, ou pelo menos deveria constituir-se, em elemento fundamental de pesquisas sobre processos de leitura e escrita, em qualquer nível ou abordagem. A fala, leitura e escrita são funções do sistema funcional da linguagem. O ser humano utiliza-se de três sistemas verbais o auditivo, que necessita de menor maturidade cognitiva. Já a leitura e escrita dependem do desenvolvimento e maturação de outras funções psicomotoras.

CAUSAS DE DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM DE LEITURA E ESCRITA.

Dentre as causa de distúrbios de aprendizagem de leitura e escrita classificadas abaixo, segundo José (2006) de forma genérica. Vale salientar que o individuo não necessita apresentar todas as características aqui descritas:
Orgânicas – deficiências sensórias e/ou motoras, intelectuais, disfunção cerebral, cardiopatias, encefalopatias e outras doenças de longa duração.
Psicológicas – desajustes de ordem emocional por medo, baixa auto-estima, ansiedade ou insegurança.
Pedagógicas – métodos inadequados de ensino, falta de estímulos aos pré-requisitos para aprender nas etapas do processo de escolarização, falta de atenção ao nível de desenvolvimento da criança, atendimento precário ao aluno devido superlotação de classes escolares, relacionamento professor-aluno entre outros.
Sócio-culturais – choques culturais, falta de estimulo, desnutrição, marginalização de diversas origens.
Dislexia – distúrbios de leitura.

Dentre estes a Dislexia é citada e merece a atenção de pesquisadores da área de psicomotricidade, portanto, verifica-se segundo José (2006) algumas características encontradas em crianças com dislexia: memória - dificuldades auditiva e visual de reter informações; orientação espaço-temporal – incapacidade de reconhecer direita e esquerda, incapacidade de conhecer horas, dias da semana etc.; esquema corporal - conhecimento deficiente do próprio esquema corporal, dificuldades na postura corporal em relação ao espaço em que vivem; motricidade – distúrbios secundários de coordenação motora global e fina que atrapalham o equilíbrio e a destreza; distúrbios topográficos – incapacidade de compreender legendas em mapas, entender escalas que são utilizadas para definir o espaço real; soletração – incapacidade de revisualizar e reorganizar auditivamente as letras.

CONCLUSÕES

A psicomotricidade é um instrumento de auxílio na compreensão de problemas de aprendizagem e no planejamento de intervenções, pois se sabendo sobre causa de problemas, suas origens e como se dá sua relação com o corpo, instrumento da aprendizagem, pode-se promover ações mais precisas, logo com maior possibilidade de sucesso.

Os problemas de aprendizagem são um desafio a educadores, autoridades públicas e famílias. Muitas vezes por falta de informação, preconceitos são disseminados realimentados e acabam por condenar indivíduos a modos de vida com baixa qualidade social, econômica, psicológica e mesmo educacional.

Cabe a educadores e pesquisadores da psicomotricidade construírem uma ponte de conhecimentos, sustentada por ações efetivas que possam auxiliar a sociedade a promover ações inclusivas, reeducativas e informativas sobre o trato para com pessoas que possuam qualquer tipo de comprometimento psicomotor.

REFERÊNCIAS

LE BOULCH, Jean. Educação psicomotora. A psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

JOSÉ, Elisabete da Assunção. COELHO, Maria Teresa. Problemas de aprendizagem. 12 ed. São Paulo: Ática, 2006.

OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. 12 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Saudações a todos os que desejam discutir sobre Educação, Psicomotricidade e Inclusão.


Sejam bem vindos ao espaço virtual para consultas e discussões sobre Educação, Psicomotricidade e Inclusão.

Este é um espaço no qual pretendo apresentar, discutir, debater, socializar saberes e conhecimentos, dificuldades, experiências, relatos, curiosidades, livros, instituições, produções que mantenham alguma relação com o tema Educação, Psicomotricidade e Inclusão.

A partir do pensamento e experiências de pessoas interessadas, familiares, profissionais das áreas de Educação, Saúde, Ciências Humanas ou áreas afins, poderemos colaborar com todos os que se interessam pelo tema.

Comentem, solicitem, enviem suas produções textuais, relatos de experiências, questionem.
O espaço é democrático.

Marcos Marcelo F. Barreto.